O "American way of life" latinizado para dar a sensação de que o capitalismo, com criatividade e empenho, consegue ceder espaço a todos que se propõe rodar a engrenagem do sistema, lotado com frases retirada de típicos manuais baratos de empreendedorismo. Ainda assim, conta com certa passagem autoconsciente do sistema reprodutor de desigualdades, como por exemplo a cena em que explora a hierarquia da fábrica, deixando muito claro o terreno desigual em que pisa. Seu grande mérito, sem dúvidas, está na edição sempre ágil, na típica fotografia amarelada (até quando os latinos serão retratados nestas cores? No entanto, ficou bonito), e principalmente no subtexto do protagonista, sua atuação contida dá conta de construção de um personagem cativante. O filme inicia na infância de Montañez, naquele típico ar de infância sofrida mas que mantem o apego à sua identidade original, e isso fará toda a diferença no desenrolar da trama. Contando com uma esposa amorosa e com as dificuldades inerentes aos latinos em terras norte-americanas, seu texto pode até soar expositivo demais para o padrão cinematográfico, mas como dizem, mais didático impossível. O protagonista então navega entre o tráfico e a prisão (retratado em uma edição frenética) até parar numa grande fábrica como faxineiro, sem ao menos ter o ensino médio. Longe de romantizar a situação dificultosa, não apenas pela sua origem étnica mas pela falta de estudos a que o personagem principal se depara. Sua mulher, romance de infância, encarna a personagem feminina típica, submissa até certo ponto, rígida quando precisa elevar a moral do marido. Com três filhos, o filme vai acompanhando o tempo de crescimento dos pimpolhos juntamente com os planos de crescimento de Richard, que é desafiado no governo Reagan a finalmente expor sua ideia sobre o Cheetos picante. Não sei até que ponto o filme romantiza a ligação de toda essa ideia de marketing com o peso da cultura latina na terra do tio Sam. Mas o fato é que por ser uma comédia, as caricaturas e o tom sempre acima funcionam muito bem para a proposta do filme, fugindo do melodrama e acertando em cheio no sonho oculto por tornar a jornada épica. Peca pela verossimilhança, e por se entregar de vez ao mainstream, tanto é assim que a cena final tenta "consertar" o estrago ao filmar o já bem sucedido personagem de Montañez dando visibilidade aos funcionários do baixo clero que lhe servem em um restaurante de luxo, do garçom ao manobrista. É uma espécie de "mea culpa". Com tiradas reflexivas sobre as desigualdades provocadas pelo capitalismo no maior país aberto ao mercado do mundo, assim como com comprovações que o filme assegura a enterga ao sistema, sendo basicamente um grito antianarquista e um ode ao empreendedorismo em sua visão mais torpe, superficial e iludida, temos ao menos um filme que diverte e conta com personagens carismáticos, ao mesmo tempo que a caricatura de alguns ajuda no riso. Entre ficar com um besteirol cômico e um filme que ao menos retrata o mundo do trabalho de forma afetada mas divertida, longe da genialidade de Chaplin, mas muito perto por dialogar com seu público alvo, "Flaming" acaba sendo uma boa opção da alienação e do conservadorismo dos trabalhadores ao sistema. Tendo isso em vista, que é basicamente um filme conformista, não há de se esperar muito. tal qual um conto de fadas, cumpre a missão de vender uma ideia de entrega ao sistema, ao menos vemos chegar ao topo um homem latino, juntamente com seu colega negro. Uma exceção da exceção, que pelo menos nos faz sonhar por uma hora e meia de sua projeção.
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